Junho, reconhecido como o Mês da Diversidade, intensificou as discussões sobre equidade no ambiente corporativo e os critérios utilizados para a ascensão profissional. Em meio às transformações nas políticas de diversidade, equidade, inclusão e pertencimento adotadas por grandes corporações internacionais, especialistas têm refletido sobre como conciliar inclusão e meritocracia nos processos de promoção nas empresas.
Desde a década de 2010, empresas em diversos setores passaram a adotar iniciativas para ampliar a representatividade interna e refletir o perfil plural da sociedade. A tendência global seguiu a intensificação de movimentos sociais voltados à justiça racial e à inclusão de grupos historicamente sub-representados no ambiente corporativo.
Esse movimento ganhou força influenciando áreas como o RH e os processos de recrutamento e promoção interna. A adoção dessas práticas foi impulsionada por uma percepção crescente de especialistas de Recursos Humanos sobre os benefícios de equipes diversas, como a multiplicidade de visões, o estímulo à criatividade e a maior conexão com diferentes públicos.
Com a diversidade no centro das estratégias corporativas, parte do debate recai sobre os critérios utilizados para promoção a cargos de liderança, segundo o especialista em gestão de pessoas e CEO da InCicle, Rafael Giupponi. Segundo ele, a discussão ganha complexidade quando envolve programas de cotas para funções estratégicas.
“A promoção por mérito, baseada em desempenho e competências, é um princípio que costuma guiar os processos seletivos internos. Quando se criam reservas de vagas para grupos específicos em posições de liderança, pode haver a percepção de desigualdade entre os colaboradores”, afirma.
Nos últimos meses, empresas como Google, Meta, Amazon e Walmart revisaram suas políticas de diversidade nos Estados Unidos, mas no Brasil o cenário é distinto. Levantamento do Instituto Ethos aponta que 80% das empresas brasileiras consideram a diversidade um fator estratégico para a inovação e a competitividade. Agora as organizações têm buscado atrelar as ações de inclusão a métricas de desempenho e engajamento, visando garantir resultados mensuráveis e sustentáveis.

CENÁRIO
Giupponi explica que o debate sobre meritocracia e diversidade não precisa ser excludente, desde que existam critérios transparentes e metas bem definidas na promoção. As normas europeias de relatórios de sustentabilidade (ESRS), por exemplo, já exigem a divulgação de dados sobre diversidade nos quadros de liderança e indicadores como proporção de gênero, presença de minorias e implementação de políticas inclusivas.
“A consolidação dessas práticas tem sido vista por analistas como um caminho para empresas que buscam inovar, atrair talentos e fortalecer sua reputação institucional. A tendência é que essas iniciativas de inclusão deixem de ser apenas políticas sociais e passem a compor a estratégia de negócios, com monitoramento constante e metas mensuráveis”, finaliza.